sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Poema em linha reta



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.


Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo.

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.



Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...



Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó principes, meus irmãos,



Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

( Fernando Pessoa )

Um dos melhores poemas que eu ja li, assim como Tabacaria do próprio Fernando, são os melhores que ja li, talvez por que fale de um Eu solitario e verdadeiro escondido lá no fundo. Esta interpretação do Osmar Prado, na novela o Clone, foi, para mim, a melhor. Desfrutem.




segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Preto e Branco

Passei o final de semana todo pensando na novela que acabou na ultima sexta feira (19), "Insensato coração" da rede globo, não que eu seja um assíduo telespectador de novela, pois, não sou como alguns já sabem, gosto de personagens e não de novelas, se bem que as vezes, no alto de minha ignorância mim deixo assistir, mas o que mim chamou a atenção foi a "mistura racial" que nela ocorreu, todos os pretos da novela, poucos por sinal, terminaram sua participação com um (a) branco (a). Fiquei mim perguntando o por quê disto? será que o autor quis mostrar que no Brasil não tem racismo, ou que vivemos uma perfeita "mistura racial" neste país medíocre? ou os pretos precisam dos brancos para se fortalecerem numa estrutura social? seli la, só sei que cada vez mais somos colocados de lado, e os que mais assistem estas novelas são os negros de baixa renda que ainda se deixam influenciar.
Vale ainda atentar para outro aspecto, esse em especifico se refere a atriz Camila Pitanga, ela esta bem branca nesta novela, as mulheres negras em geral quando fazem um papel de destaque nas novelas elas se embranquecem, eu já tinha inscrito sobre este assunto aqui mesmo no blog sobre a atriz Tais Araújo, vale a pena rever.

Um Abraço.